Eles estão se superando…

Já faz um tempão que anunciam o cardápio do futuro: a dieta do apocalipse vai ser se alimentar de insetos, quem nunca ouviu falar? Mas uma certa rede de hipermercados já andou se adiantando e decidiu colocar em prática uma tática algo palatável, a fim de preparar, não digo nossas papilas mas, ao menos, nossas narinas, e lançou um detergente com aroma arrojado. Você aspira e não sabe se o cheiro que está sentindo é de inseticida, se é de barata, ou se é de barata que morreu por ação de um inseticida, coisa de louco!

Incauta, comprei. Assim como compro vários produtos com a “marca” da rede, porque eu nunca dei muita importância para isso. Depois dessa, não sei se continuo confiando. Se vou começar a olhar de esguelha para a caixa do leite longa-vida (sim, sou velha, quando essa novidade saiu era como a gente chamava o leite de caixinha). Ou se vou passar direto pelas gôndolas com o preço irresistível do papel toalha. Não sei, neste momento não seria capaz de dizer.

A bem da verdade, não é só entre os genéricos que esse tipo de traulitada acontece. Recentemente comprei três pacotinhos de uns guardanapos de papel com nome aristocrático para descobrir, na primeira refeição, que eles cheiravam a papel reciclado. E olha que eu não estou me referindo propriamente a guardanapos, mas a papel higiênico mesmo.

Os lápis

Minha vida inteira eu sempre usei um lápis só, uma caneta só, uma borracha… Tudo numa perspectiva de escassez e pode ser que isso tenha interferido, de alguma maneira, com a resposta que o Universo tem me dado. Porque se para mim nada falta, também nada sobra. Estranho isso. Alguma proteção divina me garante usufruir o necessário, nunca o extraordinário. Mas eu decidi me rebelar.

Comecei com os lápis. Eu, que tinha comprado só um, quando ele ficou pequeno fui até a papelaria – a maior que encontrei no bairro! – e trouxe logo uma caixa pra casa. Sim, uma caixa completa com doze unidades. Desatei a fazer ponta em todos eles e mantenho meu tesouro ao alcance da mão, junto à mesa de trabalho. Chega disso, de gastar um para pegar o novo. Sem chance. Quero agora a fartura de usar todos ao mesmo tempo. E me dou ao desfrute de mantê-los religiosamente apontados.

Porque, não sei se você sabe, leitor, mas poucos prazeres na vida se comparam à delícia de sentir um lápis apontado deslizando sobre a folha, enquanto se escuta o barulhinho gostoso que o atrito entre os dois faz.

Um susto atrás do outro

Semana passada, eu ainda estava apreensiva com a situação política do Brasil. Depois do 7 de setembro, fiquei mais calma. Em compensação, as imagens de incêndios por todo canto do país (do planeta?) têm me deixado bastante alarmada.

Muito antigamente, existia uma crença de que Deus, depois de promover o dilúvio e salvar apenas um casal de cada bicho e a família de Noé, haveria feito a promessa de jamais voltar a destruir o planeta usando água. Na próxima, usaria fogo! Será???

Ele está motorizado!

Vi o sujeito com dois radiotransmissores ali pela altura da estátua do Bellini, ponto de encontro mais do que tradicional para quem marca encontro no Maracanã. Ele estava num patinete elétrico e rodava em direção à Radial Oeste. Primeiro pensei que fosse da equipe de TV, trabalhando em véspera do jogo do Flamengo. Mas depois vi que ele saltou numa entrada logo adiante, do parque aquático.

Segui no meu passo e, de novo, ele me ultrapassou, na virada em frente aos escombros do Museu do Índio. Deve ser um funcionário do estádio poupando as pernas. Com o calor que estava fazendo, muito justo ele se valer do meio de transporte. Realmente, as distâncias entre os portões são grandes. Não sei quem foi que pensou nisso, mas outras empresas deveriam adotar, porque fica simpático. Assim como os patins que os supervisores usam para se deslocar dentro dos hipermercados.

Caminhar

Quase todo dia tem alguém lembrando a gente que caminhar é um santo remédio: previne doenças, combate problemas crônicos de marcadores que prenunciam risco de vida etc etc. Reviravoltas alheias à minha vontade – leia-se furdunço na aula de pilates – me fizeram optar por apenas ganhar as ruas da Zona Norte em passo firme e acelerado, para não sucumbir aos dodóis.

Não resolveu, nem resolverá minha fibromialgia – há um ano somos unha e carne! – mas… que está fazendo maravilhas com a minha cabeça, lá isso está! Eu, que andava triste há semanas, sem ideias novas, algo eremita, do nada me redescobri feliz! E só porque dei de sair a caminhar pela Avenida Maracanã, a rodear o Estádio do Maracanã, observando o voo das aves de mesmo nome, e espichando o olho para os peludos que levam seus humanos para passear.

Tão simples, tão tudo de bom, e incrivelmente mais em conta do que gasto com qualquer outra panaceia.

Alguma luz

Assim que começou toda essa loucura de pandemia da Covid-19, e eu ainda estava assustada – juro, não estou mais! – teve uma noite em que eu olhei pro céu, vi uma estrela brilhando forte e, de repente, me peguei fazendo uma oração ao Universo olhando para ela. Quando já estava quase acabando é que me dei conta de que não, aquilo não era uma estrela, era tipo um holofote que colocam no alto dos prédios, sei lá se é para avisar alguém onde ele termina… Naquele momento, havia me tornado, além de assustada, uma imbecil! Mas rir de mim mesma me ajudou a aliviar a tensão.